os dentes não eram mais brancos. manchados de café, cigarros, vinho e histórias da vida. mesmo assim o sorriso era encantador. um charme secreto que poucos naquela idade tinham. muitas histórias pra contar, guardadas na caixa de madeira, foram espalhadas sobre a mesa. um olhar que via além do alcance. uma perspicácia, um sentido único. a pele devidamente dourada de sol, revelava toda a juventude guardada nas veias. o olhar tinha cor, um certo verde claro que comia a vida com os olhos. o cabelo envolvia e mesmo com o suor de um dia todo ainda exalava um perfume natural, disse. o dia foi surgindo, o café no bule apitava. o cheiro do pão na frigideira tomava conta do chalé. os cachorros latiram por toda a noite, mas nem assim a concentração foi perdida. abafava os sons vindos do escritório, que continha um segredo. o líquido da taça foi substituído diversas vezes e os deixavam mais soltos e mais íntimos, a cada segundo que passava. palavras e frases ditas ao pé do ouvido. por vezes incompreendidas, mas as mãos faziam a tradução. estava quente, mesmo com a temperatura abaixo de 10 graus. era necessário ficar com os pés foram do chão para ocuparem o mesmo espaço. isso não era problema. o álcool ajudava a fazer isso com toda a delicadeza. a harmonia do momento parecia orquestral. a música na vitrola repetia inúmeras vezes, mas não havia problema. era a trilha sonora perfeita. tudo estava em sintonia. mentes, palavras, mãos, olhares, desejos. não chegaram a dormir, receberam o dia com a mesma vontade de vida, agradeceram a oportunidade, se abraçaram, não era permitido nada mais além daquilo. o cheiro ficou nas mãos durante todo o dia, não era nada demais. cheiro de corpo, suor, de vida. o que 20 anos tinham feito a eles. o que 20 anos não fazem. tudo ficou gravado pra sempre na memória. o tour começara bem.

Comments

Popular Posts