ontem era carmem. o senhor de óculos se aproximou pediu a caixa de fósforo emprestada. apenas um pretexto pra perguntar se não se conheciam. respondeu, com a carranca típica segurando a taça de martini entre os dedos, que devia estar se confundindo com outra pessoa. o senhor, quase careca, vestido de preto e com uma cruz no meio do peito, insistiu e a não carmem permaneceu com a mesma expressão. o martini acabou, o show antigo que passava na TV bicolor cessou, a cadeira estava quente e a companhia nunca chegou.
antes de ser carmem alguém a reconheceu. seus olhos vermelhos condenavam o martírio do dia. a conversa que não tinha sentido a fez ficar em pé com a mão na cadeira. não apertou a mão, não sorriu, não fez questão e pensou 'ainda bem que reparou'. era dia de martini e não gostava de ser incomodada. ficou divagando no pensamento como alguém tem a capacidade de parar outra pessoa na rua e perguntar banalidades. a bebida não é justificativa e como resposta quase soltou uma. respirou e pensou que não havia necessidade. o tom baixo, sério, objetivo e monossilábico fez com que o senhor, de camisa cor de goiaba, exalando cheiro de suor com cerveja, se colocasse no devido lugar, a duas mesas da dela.
nem assim ele deixou de bisbilhotar, de rabo de olho, a conversa alheia. era réporter, se dizia tal. para ela, que ontem foi carmem, não era nada além de um senhor no ostracismo dos bares da pequena vila. o cheiro enojou 'carmem' que não tirou os olhos da tela enquanto apreciava seu martini.
'mais um por favor' e assim encerrou a noite.


Comments

Luize said…
Estou de volta aos blogs! tava com saudade dos seus textos :D

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