houve tensão quando se ouviu os passos subindo as escadas. a voz do lado de fora penetrava a sala pequena, com porta de armazém. a conversa, do lado de dentro, ficou abafada. relaxar. relaxar. era o que pensava, mas a voz a transportava para outro universo. a culpa, por mais que não deveria estar presente, puxou uma cadeira e sentou ao lado do colchão. logo logo a voz desapareceu e o desejo da carne voltou a reinar. tudo muito contido, olhares, palavras, mãos e pés. a luta era intensa. contra quem? ela mesma. não podia se doar, não queria se doar. na verdade... queria sim. mas pensamentos invadiam o momento. daqui 3 semanas não haveria mais nada daquilo e matutava sobre o fazer e não fazer. as cartas da cigana mostravam momentos de introspecção; sucesso, quem sabe, no trabalho; morte e renovação de relacionamentos; família unida e mudanças bem vindas. a vida tinha parado havia 5 meses. os planos foram deixados em entulhos dentro do guarda-roupa por arrumar, os sonhos batiam todos os dias na porta do desejo e o caminhar era lento, não seguia cronogramas ou relógios, a cada dois passos dados um era para trás. o sorriso leve, grande e acolhedor dava espaço para a água salgada que insistia em correr pela face com maquiagem barata, para disfarçar o cansaço do dia a dia. mais um dia nublado nascia, a cama a abraçava e sussurrava em seu ouvido um sonho bom. mesmo assim, levantou da cama e saiu de pijama. a peça ficou por lá, sentiu falta no primeiro momento da manhã. a leitura ficou pra depois. 


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