CONVERSA QUENTE



Exploda!
Faça isso de vez em quando.
Mas não em um local público.
Em quatro paredes, um lugar que ninguém gostaria de estar com o verdadeiro você.
Assegure-se que as portas e janelas estejam fechadas.
Afinal... Quem é você?
É. Você. Que está bem a minha frente, com esses olhos analíticos que vivem perseguindo um só deslize, um único olhar para o lado, um instante de intimidade com o outro que você não conhece ou talvez nem queira conhecer.
Você serve de modelo aos outros. Todos te admiram. Ficam encantados com sua beleza, sua voz serena, sua simplicidade e sua amabilidade.
Mas pense duas vezes antes de falar. Ah! Você pensa? Nem sempre, convenhamos.
Sejamos sinceros, estamos somente nós dois nesse momento, não precisamos de fantasias para tentar enganar o outro que não gostamos, precisamos?
Sinta-se a vontade. Aceita um charuto acompanhado de um uísque?
Não, não... Infelizmente você não desfrutará de um bom e velho uísque.
Aqui só tem aquele que vende no bar da esquina, que eu sei que você bem conhece.
Como sei tantas coisas sobre você? Tenha paciência e perceberá sem mesmo eu falar.
...
Você tem há muito tempo esse costume de afofar a almofada antes de colocar a cabeça? Não? Certo, certo. ... Por nada... É que para mim este é um costume de pessoa mais velha, idosa, que demonstra insatisfação quando não se sente confortável em um ambiente.
Claro! Acredito em você. E você? Acredita em mim?
Não sabe? Como pode não saber? Ou acredita ou não.
Não existem meias verdades, meias mentiras, elas podem, sim, ser contadas pelas metades, mas são únicas.
E o problema está aí, contada pela metade, qualquer verdade ou mentira tem uma única saída.
A explosão.
Ou é você quem explode ou o outro. Um dos dois. É inevitável.
Mas é bom sinal. Exploda! Sempre que tiver vontade... mas lembre-se! Não em locais públicos, pois a admiração é um cristal precioso e sua imagem facilmente pode ser estraçalhada em minúsculos pedaços. Você servia de modelo, depois disso não mais.
Tome cuidado! Pise em ovos. Escute as paredes e o chão. Não dê atenção para as placas sociais que insistem em cair bem na sua frente. Sinta-se seguro, este é o caminho.
E cá entre nós. Você gosta de ser alguém que se imite, de ser uma figura exemplar, por esse fato você ergue a cabeça, mas também não empine tanto o nariz, que essa postura te impossibilitará de ver o que o chão te reserva.




11-06-2007
21h30

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