Violão*
"... um banquinho, um violão, ..., pra fazer feliz a quem se ama..."

Sempre tive o desejo (e ainda tenho) de aprender a tocar violão. Fiz uma tentativa na minha vida, mas achei complexo (mentalidade restrita) e saia da aula sempre com a mão dolorida e com tremor, assim fico de espectadora, o que às vezes coça minha mão de ter deixado a oportunidade passar.
Um violão em uma roda de amigos faz milagres. O bonito mesmo é ver alguém que sabe tocar, que dedilha e posiciona a mão como se fosse a coisa mais simples do mundo, mas quem sabe tocar afirma que, realemnte, é a coisa mais simples do mundo.
Gosto de observar como a mão escorrega pelo braço do violão, como os dedos pulam de casa em casa sem, aparentemente, o mínimo esforço, como é lindo ter alguém do seu lado, bem pertinho, que toque violão.
Dias atrás fiquei percebendo um garoto, diga-se de passagem bem charmoso, que tocava o violão com uma destreza inigualável, mesmo ele dizendo que não sabia tocar direito, que seu instrumento era outro e não o violão, bla, bla, ..., mas para mim estava lindo. As mãos, os braços, o som...
A voz dele rouca, tocando o violão e às vezes sussurrando algum pedacinho de música compunha todo o ambiente, deixando-o mais charmoso ainda.
Pedi a ele que cantasse, em bom e alto som, mas se recusou. Disse que fica envergonhado em cantar (mas ele não sabe a voz rouca atraente que tem), então como eu não me lembrava das letras das músicas que ele cantava fiquei incentivando-o a cantar mais alto. Ora resolvia, ora não.
Mal sabe ele que ali, naquele momento, ele ganhava pontos comigo, conquistava um pedaço meu, que meus olhos não saiam daquele enquadramento onde só cabia o violão, ele e o fundo negro da noite.
Como eu queria que ele estivesse comigo, para que a música que tocasse fosse pra mim, para que eu inspirasse uma música, mesmo sendo primária ou complexa demais para que os outros entendam. Queria sentar na garagem de casa, em uma tarde de chuva, sem nada para fazer na cidade e ficar ali, ao lado dele, vendo-o tocar o violão (companheiro de boas horas), rir um pouco, tentar cantar algumas músicas e ficar observando o jeito sério, compenetrado (que ele tem ao pegar no instrumento) que achei uma graça.
Mas como falar isso tudo? Com que cara? Com que peito? Confundir a minha e a cabeça dele? O difícil é conciliar os pensamentos, discernir o certo do errado, se o passo que quero dar não é em terra fofa ou areia movediça, se não vou passar por idiota nisso tudo.
Assim, fecho a minha boca e engulo o pensamento a seco, esse que ainda se debate querendo sair para sussurrar gritado no ouvido dele.
Deixa isso para uma outra vida, quem sabe.
* historinha faz-de-conta criada no feriado regional.

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